Em 2012 recebi uma ligação. O desafio era escavar em granito uma vala de 80m de extensão, 1,20m de largura com profundidades variando de 0,5m a 4m.
Um desmonte de trincheira (trench blasting) não é lá a coisa mais complicada do mundo. O que tornava este trabalho muito atrativo era a proximidade a um conjunto habitacional no bairro Boa Vista, em Curitiba.

Tradicionalmente à época a maneira de se executar este tipo de trabalho era com cobertura de solo sobre a superfície do desmonte. Eu mesmo já havia executado diversas detonações em áreas urbanas cobrindo o local com solo.

Uma montanha de argila e outros materiais sempre atuaram como o seguro contra flyrock. A cobertura não é um fim em si, mas um backup, o controle de flyrock deve ter a sua principal base no dimensionamento do desmonte, não na cobertura. Como o seguro que você contrata todo o ano para o seu carro e espera nunca ter que utilizá-lo. Assim é a cobertura. Se algo der errado, elá estará lá, mas o principal fator preventivo é a condução segura ou, no nosso caso, o dimensionamento correto do desmonte.

Mas o foco aqui não é na escolha das melhores configurações de carga, perfuração, sequenciamento e etc que foram utilizadas mas no dimensionamento da cobertura, na escolha do seguro, aproveitando a deixa da metáfora.

Sempre vi em artigos da ISEE que os gringos utilizavam a muito, muito tempo coberturas feitas com pneus inservíveis. Verdade seja dita, já tinha presenciado aqui no Brasil o uso de pneus, apenas pneus, colocados sobre a superfície do desmonte. Talvez como uma maneira de aumentar a massa da cobertura. Mas o pessoal lá fora fazia uma espécie de tapete, tornando a cobertura muito mais eficiente.

Fiquei pensando à época em como fabricar estes tapetões. E a história de como conseguimos é esta:

Eu estava em uma obra no RS, PCH Rastro de Auto em Fontoura Xavier. De lá do fundo da grota de onde se localizava a obra eu enviei quase 30 e-mails para empresas e pessoas que trabalhavam com reciclagem de pneus no Brasil.

Apenas uma pessoa me respondeu, o meu grande amigo Fabiano. Você pode conferir o trabalho dele aqui.

Eu lembro que ele me escreveu no e-mail algo como “acho que eu dou conta de fazer, sô!”. Combinamos de nos encontrar em Goiânia. Peguei um voo em Porto Alegre e meu sócio, Ronoel, tomou outro de Curitiba e o Fabiano foi nos buscar no Santa Genoveva e nos levou até suas instalações am Anápolis.

Depois de conhecer a empresa e de uma reunião de mais ou menos duas horas, onde colocamos na mesa os detalhes do “tapetão” que precisávamos, acertamos que o Fabiano fabricaria duas mantas de teste e que nós nos encarregaríamos do frete delas de Anápolis para Colombo – PR.

Eu precisava testar as mantas. Tudo o que eu sabia sobre elas era o que tinha lido em papers e visto em vídeos do youtube. Precisa observá-las ao vivo, fazendo minhas observações e utilizando as mantas eu mesmo. Não poderia usá-las em escala de produção apenas com um parco embasamento teórico, seria muita irresponsabilidade.

Um mês depois as duas primeiras mantas chegaram em Colombo. Eu precisava de um local para testar o brinquedinho novo. Entrei em contanto com o meu grande amigo Jose Carlos Pavin, também conhecido como Pelé. O Pelé, na época, era um dos donos de uma empresa de cal e calcário, a Calcário Diamante. Eles possuíam pequena mina de calcário e também um paiol apostilado. O Pelé me forneceu o local e os explosivos necessários para a brincadeira.

Eu e o grande Zé (foto) perfuramos uns 60 furos de 0,5m a 1,20m e 38mm de diâmetro. Carregamos com emulsão encartuchada. Fizemos diversas rodadas de testes. Lembro que a SDoB dos furos variou de 0,4 a 1,20 \(m.kg^{\frac{-1}{3}}.\)Era realmente para testar se as mantas sobreviveriam a uma formação de cratera completa.

Elas passaram na provação a que foram expostas e com isso fizemos uma encomenda ao Fabiano de 6 mantas de 1,20m x 4m e 6 mantas de 3m x 4m.

Utilizamos as mantinhas para fazer a obra, foi um sucesso. Alguns meses depois o Pizza (também conhecido como Eng. Hercy) me ligou e levou as mantas para a obra do Porto Rio, na cidade do Rio de Janeiro. E por aí foi, o Fabiano começou a vender mantas para todo o Brasil assim como faz até hoje.

Nos vídeos abaixo você pode conferir os tapetinhos mágicos funcionando.

Abraço e até a próxima.

By Golin

2 thoughts on “A origem dos Blastmats no Brasil.”
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